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Permacultura

            A palavra Permacultura é proveniente da fusão das palavras cultura e permanente, ou ainda, agricultura e permanente, pois parte-se do pressuposto de que o ser humano precisa de uma cultura permanente, se desejar permanecer mais tempo no planeta terra.

            Permacultura pode ser definida como uma ciência holística transdisciplinar e uma metodologia para o planejamento e a execução de ambientes humanos sustentáveis.  Podemos dizer que um dos objetivos da Permacultura é mostrar que existe outra forma de habitar o planeta, uma forma mais harmônica e inteligente, que se utiliza da observação dos sistemas naturais, da ciência holístico sistêmica e do conhecimento dos povos tradicionais, somados à tecnologia disponível (MOLLISON E SLAY, 1998).

Como ressalta Commoner (1963) apud Poggiani (1998) é cada vez mais aceito entre os ecologistas que o uso correto da ciência não está em dominar a natureza, mas em viver de acordo com ela (COMMONER, 1963).

E é justamente essa constatação de Commoner que faz referência a um dos pressupostos básicos da ciência permacultural, que é a idéia de não lutar contra a natureza ou tentar dominá-la, mas sim estudar, compreender o funcionamento dos ciclos vitais e com base no conhecimento adquirido, realizar o planejamento e a implementação de ambientes humanos sustentáveis, em consonância com as leis naturais.

            O conceito de Permacultura é bastante amplo e, portanto, engloba uma visão holística e transdisciplinar. Baseia-se nas propriedades das plantas, dos animais e das infraestruturas, maximizando e intensificando a produção de alimentos e outros produtos com base em insumos predominantemente locais.

            A Permacultura constitui-se numa forma de desenvolver padrões de vida a partir dos padrões da natureza. Neste sentido, trata-se de um conhecimento cujas diretrizes se orientam para uma nova forma de viver, com vistas à sustentabilidade, buscando a integração harmônica entre paisagem e homem, dentro de uma visão ética (MOLLISON E SLAY, 1998).

             Mollison (1988) ressalta que o conceito de Permacultura está relacionado à ética com a vida, que se traduz na ética com a terra, na ética com as pessoas e com a distribuição dos excedentes. 

            De acordo com Rodrigues (2000), podemos definir a Permacultura como um conjunto de conhecimentos que congrega práticas ancestrais, técnicas e métodos, sendo além de uma “ciência”, uma “arte” que busca promover o desenvolvimento humano, dentro de um padrão holístico. Como fusão de todas estas dimensões, é uma filosofia de vida (RODRIGUES, 2000).

           Com os dados obtidos a partir da observação do ambiente, é realizado o planejamento permacultural, que é uma proposta de posicionamento dos elementos dentro do espaço físico em questão, de forma que os elementos cooperem entre si, reduzindo o gasto energético com o manejo, otimizando a produção e harmonizando a propriedade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Exemplo de planejamento (design) permacultural - obtido de www.ipoema.org.br

 

Bioconstruções

 

            Bioconstrução é um termo que se refere a construções ecológicas, de forma geral. É uma outra forma de construção, que prioriza a utilização de materiais de baixo impacto ambiental, utilizando conhecimentos e técnicas relacionadas à permacultura, com o objetivo de executar edificações confortáveis e ao mesmo tempo, em harmonia com o meio natural.

            A indústria da construção civil consome enormes quantidades de petróleo e causa uma série de impactos ambientais. Os materiais utilizados (cimento, ferro, alumínio, gesso, areia e brita) consomem grandes quantidades de recursos fósseis para a sua produção ou para a sua extração. Além disso, o impacto ambiental da extração e da produção destes materiais é evidente; dentre eles, destacam-se enormes campos de mineração abertos na terra, desmatamento, poluição do ar, poluição de rios e lençóis freáticos e erosão, dentre outros.

            Segundo John (2000), a cadeia produtiva da construção civil consome entre 14 e 50% dos recursos naturais extraídos do planeta; no Japão corresponde a cerca de 50% dos materiais que circulam na economia e nos EUA, o consumo de mais de dois bilhões de toneladas representa cerca de 75% dos materiais circulantes na economia (JOHN, 2000, p.17).

            De acordo com Soares (2007) o setor da construção civil consome aproximadamente 40% dos materiais e recursos gastos por ano no mundo, fomentando assim a economia global insustentável. Vão para as construções ¼ da madeira extraída, 2/5 da energia consumida e 1/6 da água potável. Nos últimos 100 anos o nível de dióxido de carbono aumentou 27%, sendo ¼ deste proveniente da queima de combustíveis fósseis usados para fornecer energia às construções. É bom frisarmos que durante o mesmo período o mundo perdeu 20% de suas florestas (SOARES, 2007, p.4).

O Brasil produz cerca de 40 milhões de toneladas anuais de cimento, uma pequena parte das quase 2,1 bilhões de toneladas produzidas mundialmente; sendo que quase metade dessa quantidade é produzida pela China. A indústria de cimento contribui com cerca de 5% das emissões globais de gás carbônico. “Para cada tonelada de cimento produzida são necessários de 1,2 a 1,3 toneladas de calcário, cerca de 250 kg de argila, de 110 kWh a 140 kWh de energia elétrica e de 60 a 130kh de combustível.” (INTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2008, p.353).

            Desde os tempos mais remotos, o ser humano sempre teve a necessidade de construir sua habitação. Com o passar do tempo, o homem aprendeu a utilizar vários materiais para a construção de suas moradias, como a terra, a madeira, a palha e o bambu.

            Entende-se por bioconstrução, um conjunto de técnicas de construção, com materiais locais de baixo impacto ambiental, que tem por objetivo o estabelecimento de edificações ou moradias humanas e outras estruturas integradas com a natureza. O conceito de bioconstruções está muito relacionado à sustentabilidade dos materiais, o que é bem diferente dos chamados green buildings, que embora apresentem algumas soluções sustentáveis, são construídos basicamente com materiais de alto impacto ambiental, ou seja, em essência, não podem ser consideradas bioconstruções.

            As construções ecológicas empregam materiais predominantemente renováveis, de baixo impacto ambiental, como madeiras renováveis, bambu e terra, dentre vários outros materiais abundantes e de fácil obtenção.

Enfatiza-se que para habitações ou pequenas estruturas, por exemplo, muitas vezes não é necessário utilizar concreto armado. Podemos projetar e executar habitações arrojadas, bonitas e confortáveis com barro, madeira e bambu utilizando, apenas em situações extremamente necessárias os materiais convencionais.

Na chácara Torre de Barro, localizada no setor habitacional Tororó foi construída uma residência de dois pavimentos com telhado de grama (3º pavimento), apenas utilizando a técnica do superadobe, sem nenhuma viga de madeira ou concreto armado (figura 9).

            Como veremos adiante, as paredes de superadobe possuem função estrutural, e dispensam vigas de concreto armado ou madeira. Vale ressaltar a importância de uma visão sistêmica e integrada em que haja a preocupação de se plantar a própria madeira utilizada nas bioconstruções em sistemas agroflorestais, como o mogno, a teca, o guanandi e o eucalipto, por exemplo. Pode-se reflorestar áreas degradadas com agroflorestas e usar essa madeira, sem degradar os ecossistemas. O eucalipto, por exemplo, ao invés de ser plantado em monoculturas, pode ser plantado em sistemas agroflorestais. Diversas civilizações ao redor do planeta desenvolveram técnicas e construções seculares de terra que, até hoje, impressionam as pessoas.

             Segundo Soares (2007) a terra é o material de construção mais abundante do planeta, e talvez o mais belo. De fato, mais da metade da população mundial vive em habitações construídas com terra. Trabalhar com esse material é muito simples e prazeroso. Há diversas técnicas de utilização da terra em construções e todas elas resultam em obras sólidas, bonitas e confortáveis, que resistem ao tempo e ao uso (SOARES, 2007, p.11).

            A escolha da técnica apropriada para construir com terra depende, entre outras coisas, do tipo de solo disponível no local. Os solos são, basicamente, uma combinação de areia, argila, silte, pedras e matéria orgânica. E as proporções fazem muita diferença. Se possível, deve-se realizar uma análise física do solo, com o qual se deseja construir, para que possa ser escolhida a melhor técnica de construção para o local específico.

            A técnica do Adobe é uma das técnicas mais antigas de construção com terra. Se a proporção entre areia e argila for ideal, pode-se utilizar essa técnica, que consiste em se fabricar tijolos maciços de terra e fibra vegetal (palha de arroz, palha de bambu ou braquiária). A terra é misturada com água, até a mistura adquirir certa consistência. A fibra vegetal é adicionada, e mistura-se novamente a massa até ficar homogênea. A massa é então aplicada em fôrmas de madeira ou de ferro. Os tijolos não são queimados, como os tijolos convencionais, ao invés disso, secam naturalmente, evitando o desmatamento e o gasto energético produzido pelas olarias e pelo transporte dos tijolos até o local da obra. Uma vez curtidos, os tijolos de adobe tornam-se blocos maciços compactados, que são assentados utilizando-se o mesmo traço da massa do tijolo.

           Tijolos de solocimento podem ser feitos com 1 parte de cimento para 8 partes de terra, e por isso, são considerados tijolos ecológicos vermelha. A mistura é feita de forma manual, e é colocada em uma prensa hidráulica ou mecânica, que fabrica os tijolos. Duas pessoas experientes conseguem produzir cerca de 1000 tijolos de solocimento por dia. O tijolo é sacado à sombra, geralmente em um galpão, e portanto, não se faz necessário nenhum tipo de forno para a produção destes tijolos.

            É importante lembrar que o custo ambiental de se desmatar o Cerrado, não está incorporado no preço dos tijolos convencionais. Além disso, a produção de tijolos de adobe em escalas maiores abaixaria o preço do milheiro. Ressalta-se também que os tijolos de Adobe e de solocimento são tijolos maciços, e, por esse motivo, proporcionam conforto térmico muito superior aos tijolos convencionais, para as residências.

            Existem várias outras técnicas de construção natural com barro, dentre elas o cob, taipa leve, taipa de pilão, fardos de palha, solo-ferro-cimento, dentre outras. Cada técnica tem as suas vantagens e desvantagens, sendo que a escolha de cada uma deve ser feita avaliando-se os materiais e a mão-de-obra disponível, os objetivos da edificação, o conforto térmico, os recursos financeiros, dentre outros fatores. O que mais temos observado é que as edificações mais bem integradas utilizam pelo menos uma das técnicas citadas acima.

            Todas as construçõpes do ecoespaço Torre de barro foram executadas utilizando superadobe, ferrocimento e solocimento. A técnica do superadobe foi desenvolvida na década de 80 pelo arquiteto iraniano Nader Khalili, e é talvez a maneira mais simples, rápida e eficiente de se construir com terra, uma vez que praticamente qualquer tipo de solo pode ser usado e não é necessário fazer qualquer teste com o material. As paredes são erguidas simplesmente com sacos preenchidos com terra vermelha umedecida, ou outro tipo de terra, como pode ser visto nas fotos. São muitas as vantagens dessa técnica, dentre as quais destaca-se o fantástico conforto térmico proporcionado. Minha experiência com as bioconstruções estará descrita no livro "Manual Prático de Bioconstruções", que provavelmente será lançado em 2016.

 

 

 

 

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